30 de março de 2022

Insurgente

 

Açúcar ou paliativo

 Perdem-se os dedos e ficam os anéis

Rasgam-se os corpos

Ficam as roupas

Engavetadas 

Os cortes na alma

Veias abertas 

bombardeadas

Em céus abertos

No castelo

Abóboras viram carruagens

Onde se comem os sapatos

E os príncipes viram sapos

 Quem ama supera o tempo

Faz terapia de casal

Em busca do seu próprio retrato

Ilustrado nos álbuns de fotografias

É tempo de caos

 Prefiro a queda abrupta

A cair lentamente

Sem data para chegar

O café é paliativo

Já bastam os impostos e os juros

A nos arrancar a roupa da alma

Expondo nossas vísceras

Ao olhar impiedoso

De quem nos quer matar

 De gole em gole

O golpe é na surdina

De vozes em vozes

Me afogo no bordel

Quanta insanidade!

Matar o verso que mal sabe andar

Ser expulsa do paraíso

Ao servir esse ilícito vício

Numa xícara de chá

 Próximo ao fim

do juízo final

Desse dito bendito

Ao expor o indizível

Humor ácido

Em meio ao estado decadente

Teoria da conspiração 

Que avança dente por dente

 Não é fácil nominar

Aquilo que não tem nome

E que de fato é inominável

Sem tato, sem paladar

Os ratos estão livres

 Açúcar ou paliativo?

Meu paladar diz que é melhor

Uma bebida quente

e fugir desse mal súbito

Insurgente


As cinzas do café de ontem

 




Café,
é tipicamente a tarja da vida.
Coado,
é uma morte bem vivida.
Borrado, dói, mas cura ferida.
A terra persiste na madrugada,
tem resto de cigarro no chão,
meio café amargo,
e um tricô que vira casaco.
Uma desordem amada.

Sou a única na janela,
em claro,
a engolir o cheiro
adocicado
do ar embriagado.
Sou a única no breu,
dentro da cafeína,
olhando a lua na rua,
deserdada.

Sou o lírio incerto,
sem pétalas,
a desaparecer no abismo
silencioso.
Te levo comigo,
e bebo contigo
as cinzas da tragada de ontem,
desse amargo café borrado.

Quantos dias irão durar o outono,
se me perdi no inverno?

Atualizações do Instagram

Topo