Naquela manhã de domingo tudo parecia tão claro, e tudo estava no mesmo lugar, tudo mesmo, até ela, que continuava a escrever tentando buscar algum sentido que a salvasse de si mesma.
Mãos tremulas e cansadas, mas o cigarro não sairia dos dedos até que tragasse a última nicotina. Até que o silêncio fosse apenas o silencio e ouvisse apenas a sua respiração, palpitante. Parece que a dor no peito só aumenta, é um batuque além da alma, dentro de não sei onde, que só se ouve a cachoeira descendo sem cessar.
Naquela manhã de domingo, olhou pela milésima vez se o café borbulhava no fogo, se ainda tinha cigarros na gaveta, e se a vida ainda estava quente, e admirou pela última vez a vida imaginária que não foi capaz de aliviar sua dor, seu sofrimento, sua angústia, sua inquietação, sua falta de ar.
O copo vazio sobre a mesinha, marca de batom nas bordas, madrugada tinha sido exausta, insonia, irritabilidade, suores e lágrimas, fobias, amores atemporais, gim, e paixões perdidas e abstratas, agora sozinha, solidão vestida de transparecia, que transparecia a alma sem corpo, sem pressa, sem pena de si mesma, sem relógio, apenas em busca de um refúgio, um barulho de cachoeira caindo, ainda lhe chama a ouvir no meio do silencio.
Naquela manhã de domingo, tudo estava decidido, o jardineiro, aquele velho amigo, tinha sido demitido.
As cinzas do cigarro sobre a mesa, os olhos decididos a se fecharem, a guerra que procura a paz dentro de si, do medo, do sim e do não, e o de não resistir e desistir.
A loucura em si, de um lado os sonhos e do outro a realidade, paralelepípedo, precipitação, precipício, paralelos, vida da ilusão de outra vida, onde não se sabe o que é real e o que é fantasia.
Ela quis estar offline por um tempo, e foi de encontro com a cachoeira.
Ninguém sabe, mas ela sabia a inquietação que de dentro emergia.